Wednesday, December 23, 2009




Alguém me dizia, não sem ponta de ironia, que o designer é como o Pai Natal, uma personagem que a sociedade construiu como modelo de um estado de espírito diligente na satisfação das necessidades da maioria das pessoas.

Tal como o Pai Natal, o designer seria uma figura pagã, que a sociedade ou o mercado foram moldando e sacralizando; tal como o Pai Natal a definição do papel do designer seria, na sua origem, indissociável da ética protestante sendo com o tempo suavizada e reproduzida em diferentes versões; por último, tal como o Pai Natal, também a construção popular do designer, como Victor Papanek bem mostrou, envolveria uma série de mitos.

E tal como a imagem do Pai Natal que hoje oficializámos, é aquela construída por uma campanha publicitária da Coca-Cola, também a imagem oficial do designer, mesmo que difusa, seria uma construção feita algures para servir os interesses de alguns.

A proliferação de discursos em torno do design socialmente responsável ,levou-nos a acreditar que, de facto, o design tem essa capacidade única de conseguir salvar o mundo ,talvez por isso, perante o conhecido episódio, Henrique Cayatte nos pareça uma espécie de bad Santa.

Num texto interessante, Emily Campbell, com um indisfarçável espírito anti-natalício, havia já desmontado a candura dos discursos pró-sociais, denunciando a sua banalização e crescente mercantilização. Tal como na época natalícia, também para um designer ser bom, tornou-se hoje incrivelmente fácil e catalogável: "Oh, social design. Social, schmocial. In buildings and on the streets, in the shops, on the newsstand and coming through the letterbox, on the screen and on the web, on my back and yours – it’s all around us and in our face; it’s all “social”. And if it’s any good, and visible or available to a decent number of people, it has social benefit. Even baubles of exquisite craft and fineness viewed only by half a dozen people in private cabinets often end up in museums for public view, so luxury has its social benefit also."

Por mim, creio que o Natal é uma excelente ocasião para deixarmos entrar a esperança na mesma medida que o realismo, o altruísmo na mesma medida que o espírito crítico, é afinal a ocasião para construir uma certa bondade, necessariamente lúcida e exigente.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com