Tuesday, May 19, 2009

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EXCESSO E DESIGN EM PORTUGAL


Num interessante texto intitulado "Excesso e Design em Portugal", Rui Afonso Santos constata que “no que concerne ao processo do design em Portugal”, o excesso “tem sido extremamente benéfico”.

De acordo com este raciocínio, os mais inovadores projectos poder-se-iam considerar “obras excessivas” tendo sido, precisamente, por isso frequentemente mal acolhidas no seu tempo: do plano de reconstrução de Lisboa promovido pelo Marquês de Pombal, passando pelo Palácio da Pena e chegando ao excesso da Lisboa de Fontes Pereira de Melo já no Século XX.

De acordo com Rui Afonso Santos “O Estado Novo salazarista não melhorou as coisas, antes pelo contrário, na sua mimética e incipiente vontade de renovação que encontrou no Modernismo dos anos 30 uma efémera gramática formal, não secundada por uma reflexão teórica capaz... mas o excesso programático de certas empresas permitiu, por exemplo, a réplica de cadeiras metálicas bauhausianas em micro-escala, destinadas como eram a espaços infantis.”

“Nos anos 50, a intervenção renovadora de arquitectos, pintores e escultores, unidos por um desejo comum de fazer “obra total”, manifestou-se em projectos especiais que incluíram, desde a arquitectura e concepção de ambientes ao desenho de equipamentos, do mobiliário ao candeeiro e toalha de banho...num “excesso” que anunciou a dignificação da profissão de designer na década seguinte, prosseguida por uma “1ª geração de designers” que Afonso Dias ilustra com os nomes de Daciano, Sena da Silva, António Garcia, Eduardo Afonso Dias e Carmo do Vale. Com a década de 80, “a renovação dos hábitos urbanos foi, porém, felizmente excessiva, com correspondentes excessos pós-modernos” nas vivências e na criação” de uma 2ª geração que estende o seu trabalho ao campo da moda, da joalharia e dos novos media.

Finalmente, considerando a actualidade, Afonso Dias escreve que “No quadro da mobilidade do mundo pós-industrial, o design hoje feito em Portugal, também já praticado por uma 3a geração, surge com uma dinâmica assinalável, numa divulgação e reconhecimento que os «excessos» na comunicação possibilitam - e temos hoje, muito justamente, designers activos em Portugal universalmente reconhecidos, do Canadá́ ao Japão...”.

Se é fácil adivinhar os nomes em que Afonso Dias possa a estar a pensar (dos designers saídos do grupo “Ex-machina” a Fernando Brízio) e se, igualmente, é fácil associar alguns outros nos quais, possivelmente, Rui Afonso Dias não estará a pensar (dos R2 a Manuel Lima), por outro lado o que não fica totalmente claro é saber a que corresponde o “excesso” no actual design português ou, por outras palavras, falta identificar o que é necessário exceder para que, escapando à norma, os projectos se destaquem. E assim, o que subtilmente o artigo de Afonso Dias coloca em questão é, afinal, a definição do que é design de vanguarda e design de retaguarda (mainstream), acreditando ainda na operatividade destes termos, hoje em Portugal.

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