Saturday, June 30, 2007

DESEMPACOTANDO A MINHA BIBLIOTECA



MATÉRIAS SENSÍVEIS
De MARIA FILOMENA MOLDER
Relógio D’Água, Lisboa, 1992
Capa de Fernando Mateus sobre foto de Rui Chafes

Maria Filomena Molder é um nome maior na escrita ensaística portuguesa no campo da Estética. Provavelmente, a par de Rui Chafes (e injustiçando alguns belíssimos textos de João Miguel Fernandes Jorge), o nome maior. Esta colecção de textos denominada “Matérias Sensíveis” (título de um extraordinário ensaio sobre o fotográfico originalmente publicado no Catálogo - magnificamente desenhado por Andrew Howard- “Murmúrio do Tempo” publicado pelo CPF em 1998) reúne textos de Catálogo expositivo e alguns ensaios escritos entre 1985 e 1999 e nos quais habitam fantasmas recorrentes na obra de Maria Filomena Molder, nomeadamente alguns fantasmas autorais – sobretudo Walter Benjamin mas também Novalis e Goethe – e fantasmas temáticos – inquietações ligadas aos limites da linguagem e da representação – que sob diversas actualizações são retomados em vários textos.
Num conjunto de textos tão rico e consistente torna-se difícil destacar um único texto, pelo menos tendo em conta critérios objectivos. A escolha é, por isso, mais emocional e susceptível de revisões a cada exercício de releitura. A última leitura que fiz destas “Matérias Sensíveis” levou o meu olhar a demorar-se no belo e fragmentário ensaio – um dos mais benjaminianos mas revelando contaminações próximas de Agamben – intitulado “Temperaturas” escrito para o Catálogo de uma exposição de Juan Muñoz e Julião Sarmento. Neste ensaio, a escrita de Filomena Molder procura dar conta do modo como a contemplação de uma imagem tem o poder de desencadear o que, na falta de uma expressão mais certa, poderíamos designar pela “origem da imagem”: o modo como a imagem remete para a ideia do que nela está representado e evoca, intangível, aquilo que na imagem nunca se fixará. “O que é, então, uma imagem? Uma representação intencional que segue a luz e é visível à luz: uma sombra, um reflexo na água, poeira, um sonho, uma história que contamos acerca da nossa vida”.

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