Saturday, May 19, 2007

REACTOR ENTREVISTA MIGUEL CARVALHAIS


Miguel Carvalhais é designer gráfico, músico e sound designer. Assistente no Departamento de Design da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto a sua actividade teórica e criativa está repartida pelo trabalho do seu estúdio, pelos @C e, ainda, pelo trabalho no Laboratório de Design da FBA e a revista electrónica Texto entre muitas outras colaborações.

REACTOR: No primeiro post do Reactor afirma-se que “não há design sem diálogo”, enquanto profissional do design que diálogos lhe interessam estabelecer? Com quem? Sobre o quê?

MIGUEL CARVALHAIS: Creio que um dos papéis importantes do designer (e do design) é fomentar e mediar o diálogo entre as partes envolvidas em qualquer projecto. Os exemplos de diálogo clássicos serão entre designer e cliente ou designer e produtor ou cliente e produtor ou público (destinatários), mas podemos hoje em dia ter em conta outras frentes de diálogo, entre produtos e utilizadores ou entre comunidades de utilizadores, por exemplo, tal como teremos necessariamente que ter em conta os diálogos entre equipas de projecto multi-disciplinares.

R: A palavra design identifica cada vez menos um campo disciplinar definido, passando a remeter para uma campo de criação híbrido e difuso. Como vê esta indefinição em torno da disciplina?

M.C.: Vejo-a como muito natural e duvido que alguma vez a palavra tenha identificado um campo disciplinar muito bem definido — enquanto designer de comunicação tendo a associar a palavra a um campo relativamente restrito mas mesmo assim vasto, que deixa normalmente de fora áreas tão relevantes como a arquitectura, a moda, o design industrial ou de equipamento, mas que por outro lado inclui o design de software. Quanto ao campo da criação, em maior ou menor grau creio que ele sempre foi bastante híbrido.

R: Se lhe pedisse uma definição de design…

M.C.: Uma prática sistematizada, processual e cultural, para a concepção, desenvolvimento e produção de artefactos.

R: O design sempre se caracterizou pela inexistência de um consenso programático, hoje talvez mais evidente devido à falência dos verdadeiros projectos colectivos, a teoria do design sempre oscilou entre uma interpretação do designer enquanto um “agente social” e uma interpretação do designer enquanto um “agente do mercado”, parece-lhe haver sentido nesta distinção?

M.C.: Poderá fazer algum sentido pensar nesta distinção em termos analíticos ou processuais, mas operacionalmente a actividade do designer deve-se situar entre ambas as valências... E não apenas nestas, já agora. Creio ser importante também pensar no designer e no design enquanto agentes culturais ou cognitivos, por exemplo.

R: Perante o relativismo dos valores (e, em particular, dos valores do design após a crise do projecto moderno) não será importante mostrarmos que existe uma diferença profunda entre a “ética individual” e a “ética disciplinar”? Quero dizer, os valores que orientam o design não podem ser relativos aos valores que guiam o comportamento dos seus profissionais…

M.C.: Naturalmente concordo em princípio.

R: Ainda há espaço para utopias no design? O Enzo Mari dizia que o design é um “acto de guerra” e o Brody, há umas semanas atrás, dizia que usamos poucas vezes a palavra revolução…

M.C.: Olho muitas vezes para o design como um campo de utopia, um campo de objectivos ideais de que nos tentamos aproximar mas que dificilmente (ou raramente, ou até nunca) conseguimos atingir na totalidade. Assim sendo, as utopias residem no âmago de cada projecto e, consequentemente, no coração de cada designer.

R: Qual é a sua “utopia pessoal”?

M.C.: Talvez a capacidade de dominar técnica e teoricamente todas as frentes de trabalho necessárias ao designer de comunicação hoje em dia, mas o tempo do designer independente e auto-suficiente decididamente já passou...

R: Parece-lhe que a blogosfera tem contribuído para o desenvolvimento de um debate sobre em torno do design?

M.C.: Sem dúvida!

R: Quais são os seus blogues de referência?

M.C.: Actualmente, e de forma não ordenada:
alistapart.com
dataisnature.com
informationarchitects.jp
tecfa.unige.ch/perso/staf/nova/blog/
ressabiator.wordpress.com/
generatorx.no
simplebits.com
infosthetics.com
designobserver.com
blog.wired.com/sterling/
tom-carden.co.uk/category/weblog/
jnd.org
plasticbag.org
westciv.typepad.com/dog_or_higher/
kottke.org
bldgblog.blogspot.com
lifehacker.com/

R: Que pergunta acrescentaria a esta entrevista? E que resposta ela lhe mereceria?

M.C.: Não acrescentaria nenhuma questão. ;)

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PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com