Sunday, May 13, 2007

REACTOR ENTREVISTA LUÍS INÁCIO


Luís Inácio é formado em Design de Comunicação e frequenta actualmente a licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras de Coimbra. Esta dupla formação ajudará a perceber o modo como concilia consistentemente o trabalho projectual, a investigação e reflexão crítica sobre o design. É responsável pelo Desígnio um dos melhores blogues nacionais sobre teoria do design.


REACTOR: No primeiro post do Reactor afirma-se que “não há design sem diálogo”, enquanto profissional do design que diálogos lhe interessam estabelecer? Com quem? Sobre o quê?

LUÍS INÁCIO: Antes de mais, quero agradecer a oportunidade de poder participar nesta iniciativa. É um esforço muito louvável e estou curioso por ler as outras entrevistas.

Quanto à pergunta, eu responderia que, interessa-me dialogar com quem quer dialogar e com quem não quer dialogar. Isto para demonstrar que não se deve dialogar só com aqueles que estão interessados em dialogar connosco, mas também com aqueles que têm visões alternativas, diferentes ou até contrárias às nossas, pois é aí que se centra o problema do diálogo. Um diálogo não é uma explicação de algo (isto acontece quando as duas posições no diálogo concordam com o que se está a dialogar, ou então quando um elemento tem uma posição mais activa do que outro, sendo que então o diálogo não é um diálogo), e também não é, aquilo que se efectua muitas vezes por aí (penso em programas de televisão ou diálogos políticos), a alternância ordeira de dois solilóquios (e vai daí, são muitas vezes desordeiros e abruptos, a roçar, quase sempre, a má-educação) entre dois pontos de vista diferentes.
Um processo de diálogo é um processo de dialéctica, i. e., de construção, de consensos ou de conclusões, numa perspectiva sempre construtiva, entre duas posições diferentes. Nós dialogamos para debater duas teses diferentes, por isso dialogamos para saber qual é a melhor, ou se é possível uma terceira tese diferente e consensual.
Neste sentido, e dentro do âmbito do design, o diálogo deveria dar-se, antes de mais, entre os designers. Não existe conversa entre os designers. Todos assumem posições que pensam ser semelhantes, todos defendem perspectivas que pensam ser semelhantes, mas, no fundo, assistimos a uma diferença de visões e perspectivas que minam o próprio tecido sócio-cultural do design. Em Portugal (e também noutros países) os designers são muito individualistas, no sentido em que pretendem configurar o seu campo, através daquilo que entendem –ou lhes interessa – ser o design, e não toleram a interferência do outro. Repare-se na dificuldade da união dos designers, seja em associações ou em outra qualquer entidade, ou mesmo por iniciativa própria, que não seja para além do mero ponto de vista promocional. Esta ideia advém do preconceito dos designers em verem os grupos ou associações como o espaço onde está subjacente o perigo da homogeneização do pensamento (provavelmente até têm razões para pensar isso), quando eles próprios homogeneízam esse pensamento do perigo da homogeneização do pensamento.
Um outro diálogo, de extrema importância, que não se faz muito, é o da teoria e prática. Principalmente, numa altura em que a mudança, que é cada vez mais complexa no mundo, exige de nós, designers, uma compreensão para além da mera técnica; é triste, por isso, ver que tudo se resume a isto: à técnica, ao prático. Já defendi noutro lugar, que vivemos numa era de dualismo “teoria-prática”, onde a prática tem uma posição dominante, e a teoria está subjugada a esta, sendo produzida, se o for, pela prática. Ora, isto é errado, porque, como afirma também Heidegger, a essência da técnica é o pensamento. Nesse sentido, temos de atribuir uma maior acutilância crítica a essa essência, a esse pensamento, no que respeita, mormente, à área do design, senão corremos o risco de vermos monstros a utilizarem a técnica-acrítica para muitos dos seus fins.
Um, último, diálogo, poderia dar-se entre os designers e a sociedade (por “sociedade” entendo todas as outras profissões organizadas). Visto que, a maioria das outras profissões desconhecem ou têm uma concepção, ou antiquada, ou completamente errónea, do design em geral. Seria muito útil compreender as suas posições, e perceber de modo é que nós também não estaremos errados em muitas questões, visto que nós, também, estamos muito fechados em nós próprios.

R: A palavra design identifica cada vez menos um campo disciplinar definido, passando a remeter para uma campo de criação híbrido e difuso. Como vê esta indefinição em torno da disciplina?

L.I.: Não vejo nada de errado na indefinição. Aliás, a indefinição da disciplina existe, muito provavelmente, porque a definição anterior estava errada e não era a melhor.
Sempre olhámos para o design, dentro do âmbito disciplinar, como algo através de uma perspectiva tradicional, que tem as suas origens na Revolução Industrial, onde a definição base era a concepção de objectos bi-tri-dimensionais em ordem a ser produzidos industrialmente, i. e., em série. A partir de meados dos anos 80 do século passado, assistiu-se a uma explosão (supostamente pós-moderna) de campos que advogariam, de uma maneira ou de outra, a sua ligação ao design. Esta multiplicação de campos foi mal vista pelos designers tradicionais. Todavia, esta especiação é, e foi, defendida, até por autores como Kant, que argumentam que uma sociedade civilizada, em que todas as artes estão divididas, só tem a ganhar, acrescentando que, se continuássemos a não dividir as tarefas, as artes e técnicas, estas nunca sairiam de um nível primitivo. Neste momento, Ken Friedman e Terry Love, num inventário que continuam a realizar, encontraram até agora cerca de 650 domínios, campos e sub-campos ligados ao design e/ou à investigação de design (temos de entender, tal como defendi noutro lado, que este inventário de Friedman e Love, tem como conceito orientador deste inventário, uma definição de design que muitos provavelmente não concordariam totalmente), demonstrando o alcance do design na sociedade contemporânea.
Um outro problema é a utilização indiscriminada da palavra design, para significar e “legitimar” tudo e mais alguma coisa – o que provoca ainda mais esta ideia difusa do design. O que antes eram “estilistas de moda” agora designam-se por “designers de moda” – com que critério é que tal acontece? (não quer disser com isto que eles não tenham legitimidade em utilizar a palavra design na designação da sua profissão, mas qual a justificação desta modificação? Porque é que antes não tinha e agora passou a ter a palavra “design”? Será que faz sentido, como acontece muito frequentemente, assistirmos a profissões, que para se tornarem mais “contemporâneas”, colocam o vocábulo “design” na sua designação?). Ou então, em anúncios de televisão ou promoções, anunciando, por tudo e por nada, que aquilo “tem design” ou que com aqueloutro surge com “novo design”. O que é isso de “ter design”? Como é que posso dar o predicado de que algo tem design? A indefinição da definição do design origina todos estes aspectos perniciosos, no entanto, dá o mote de partida para a reflexão de uma definição do design.

R: Se lhe pedisse uma definição de design…

LI: A esta pergunta responderia, num primeiro momento, como Sto Agostinho escreveu quando reflectiu sobre o tempo, mas utilizando-o, mutatis mutandis, para o design: “O que é o design? Se não me perguntarem o que é o design, eu sei; Se o quiser explicar, eu já não sei”. Isto não quer dizer que ele não possa ser definido, mas sim, que a própria questão é surpreendente e estimulante, ao ponto de nos obrigar a pensar o que realmente fazemos.
A primeira tentativa de responder seria utilizando um método descritivo, onde eu como designer de comunicação, diria que design é fazer capas de livros, paginar os próprios livros, conceber um cartaz, conceber identidades corporativas, etc, alinhando tudo ao que a valência da minha disciplina me permitiria fazer. Este é o método que utilizamos mais rapidamente, quando um transeunte nos pergunta o que é design. Mas isto é limitativo, pois podemos conceber coisas que estão fora do âmbito descritivo da nossa disciplina, e que consideramos design. Aliás, a definição ficaria fechada dentro de um âmbito disciplinar, o designer gráfico definiria o design dentro do gráfico, e o designer industrial, definiria o design dentro do industrial, etc.
Quando tentamos fugir ao método descritivo, temos tendência em cair em duas grandes áreas da definição de design. A primeira, que podemos designá-la como as definições formalistas, defendem que o design é o seu objecto, i. e., o objecto criado, como ele se constitui material e fisicamente, a sua forma (daí formalista). É através daí, da formalização de um objecto, que advém as propriedades do design.
A segunda, podemos nomeá-la como as definições projectistas, onde o ímpeto se centra nas metodologias “criativas”, ou não, que várias áreas utilizam, de modo a poder classificá-las de acordo com esse critério. Estes dois métodos tanto têm vantagens como limitações, que não vale a pena explorar muito aqui.
Houve uma dada altura, da minha contínua evolução intelectual, em que me encaixava nas definições projectistas, definindo o design como aquilo através do qual é possível determinar um processo que se finalize em algo útil. Mas concluí que esta definição apresentava inúmeras contrariedades; no entanto, não queria cair no formalismo e reduzir o design ao objecto criado.
Foi neste momento que começou o meu estudo sobre a definição de Design – que ainda está em progresso. Irei esboçar rapidamente o método que estou a seguir: para fugir ao dilema formalismo-projectismo.
Entendi, que poderia ajudar-me na reflexão deste problema uma distinção entre “Design” e “design”, onde “design” significa o âmbito disciplinar, e “Design”, aquilo ao qual o âmbito disciplinar está agregado, i. e., quando falo de “design de comunicação” tenho de entender que esta designação está composta por “Design” e “Comunicação”, entendendo pois os dois termos ligados entre si com o termo preposicional “de”, relacionando uma com a outra. Assim a definição de “Design” teria como hipóstase a expressão “design de comunicação” como determinação natural. Por outras palavras, definindo “Design” de maneira metafísica (já ouço o ranger dos dentes do leitor), teria as consequentes definições disciplinares, às quais o termo “Design” está agregado. A partir daqui, não teria só o problema resolvido da definição disciplinar da expressão “design de comunicação”, como também de todas as outras valências disciplinares. Em termos esquemáticos seria algo assim: Design --> design.
Este processo levanta algumas questões, e ainda sofre de limitações. Todavia, já posso adiantar algumas noções (que tive oportunidade de apresentar no Wonderground), que é o sentido de que o Design, no seu sentido metafísico, não ser uma entidade moral. Muito pelo contrário, é uma entidade a-moral, que se “interessa” apenas pelo “fazer-bem”, no sentido de mais optimizado, de melhor que a técnica possa produzir, do que “bem-fazer”, que tenha, em qualquer produção, algo com um valor moral que o distinga de qualquer outra coisa.
Não vou explorar a linha de argumentação aqui, até porque a resposta já vai longa, mas já dá uma percepção diferente aquilo que irei responder nas próximas perguntas.

R: O design sempre se caracterizou pela inexistência de um consenso programático, hoje talvez mais evidente devido à falência dos verdadeiros projectos colectivos, a teoria do design sempre oscilou entre uma interpretação do designer enquanto um “agente social” e uma interpretação do designer enquanto um “agente do mercado”, parece-lhe haver sentido nesta distinção?

LI: Não creio. O designer contém em si muitos âmbitos e muitas esferas, no qual essas duas, que referiste, são apenas perspectivas do mesmo agente, de modo a compreender como se especifica em cada uma delas. Reduzir a uma dessas duas, seria limitativo para uma compreensão do indivíduo designer.
O designer é antes de tudo um agente que actua sobre o mundo. E actua, como exige a sua profissão, de um modo intencional e consciente. Por isso, e sabendo, como tentei demonstrar acima, que o Design não tem qualquer valor moralmente relevante per se, tem responsabilidade, ele próprio, na maneira como actua no mundo. É claro que nem tudo é linear desta maneira; há coisas que não sabemos, há coisas que não antevemos, por vários motivos, e há efeitos dos quais nós não estávamos à espera. Isto serve apenas como um aviso para exercermos a profissão com prudência (a grega virtude da phronesis).
O designer é, antes de mais, um indivíduo, e, como tal, a sua capacidade de aderir a projectos colectivos espelha-se de maneira igual a outros indivíduos com outras profissões. Para ilustrar o que estou a escrever, repare-se no grande movimento do Design para a Sustentabilidade, aliando, supostamente, aquilo que referias sobre o contexto do designer enquanto “agente social” e o “agente de mercado”, quando, em muito, é apenas uma introdução de um novo paradigma económico, onde as duas áreas não estão assim tão distantes. Alguém que tenha uma consciência a esse problema, não espera que essas duas vertentes se incluam, em vez disso tenta agir em conformidade.

R: Perante o relativismo dos valores (e, em particular, dos valores do design após a crise do projecto moderno) não será importante mostrarmos que existe uma diferença profunda entre a “ética individual” e a “ética disciplinar”? Quero dizer, os valores que orientam o design não podem ser relativos aos valores que guiam o comportamento dos seus profissionais…

LI: O relativismo moral (ou de valores) é uma posição filosoficamente insustentável, logo, quem a defende, apenas quer continuar com a sua visão solipsista do mundo e não a confrontar com as visões de outros. Agora, dizer que algo tem uma posição relativa, é já outra coisa. Continuando com a linha de pensamento da pergunta acima, o designer como indivíduo, como agente, tem necessariamente uma moral associada àquilo que deve fazer, neste sentido, a moral individual suplantaria uma moral disciplinar (sendo que de moral disciplinar estaremos a falar das cartas deontológicas de cada profissão). A moral disciplinar existe, e é útil, no sentido em que foi criada, partindo de pressupostos morais comuns, única e exclusivamente para poder responder à questão de convivência entre profissionais da mesma área. Esta deontologia disciplinar de nada servirá, se os profissionais não a respeitarem.
Se o Design for, como defendo, a-moral, i. e., que tanto pode ser utilizado para fazer o bem como o mal, esta característica torna a capacidade de atribuir valor, uma coisa problemática. O Design assume assim os valores do indivíduo/designer, e é através destes valores que ele se define como o valor moral do bem ou do mal, do justo ou do injusto, da felicidade ou do sofrimento. Neste sentido, o indivíduo/designer toma a posição central na definição moral do design.
Pode parecer que estou a cair no relativismo moral que condenei no início desta resposta. Mas deixa-me dar uma analogia, de modo a clarificar o que eu presumo que seja uma argumentação confusa da minha posição (em parte devido ao pouco tempo e espaço para uma resposta mais estruturada). Imagina o Design como uma ferramenta, como um martelo, por exemplo. O martelo tanto pode ser utilizado para fazer uma cadeira, como fazer mesas, entre outras coisas, mas também pode ser utilizado para construir armas, ou mesmo pode ser utilizado como arma em si. Daqui se denota, que não é do Design que se vai entender algo como bom ou como mau, mas o indivíduo que o utiliza e que o determina dessa ou daquela maneira, deixando-nos apenas com o problema de definir que tipo de moral deve o designer obedecer.
Esta noção de que o Design tem uma moral exterior ao indivíduo, i. e., um moral intrínseca ao Design, talvez advenha da ideia de que uma coisa esteticamente agradável é boa por natureza. Todavia, e dando um exemplo na disciplina do Design de Comunicação, posso construir uma boa marca (uma bela marca, simbolicamente perfeita, com uma transmissão de valores respeitados no Ocidente), para a identidade de uma empresa, que, no entanto, explore trabalho infantil na Ásia. Aqui se demonstra que, aquilo que eu construí, como pensando o bem, como adquirindo o bem, apenas camufla um aspecto pernicioso de algo.
Uma nota, só para rematar esta resposta. No que respeita ao projecto modernista, ele não está esgotado e continua nos nossos dias, provavelmente com mais força do que antes, à procura de um universal (seja esse universal o que quer que seja). Seria imoral não ensinar esta procura do universal nas escolas. A nossa experiência com o pós-modernismo, nomeadamente o desconstrutivismo, é ele apelar-nos, de uma maneira que não interessa discutir aqui, ao individual, considerando o universal o individual.

R: Ainda há espaço para utopias no design? O Enzo Mari dizia que o design é um “acto de guerra” e o Brody, há umas semanas atrás, dizia que usamos poucas vezes a palavra revolução…

LI: A utopia é uma construção humana que pretende de alguma maneira constituir um objectivo a atingir, mas que nunca será atingido, precisamente porque é uma u-topia, «ou-tópos», i.e., “lugar de ninguém” (um pouco à semelhança da distopia, mas que, ao contrário da utopia, é um objectivo que ninguém pretende atingir). Veja-se a utopia do objecto de um design perfeito, ou de paz no mundo, ou de amor entre todos os seres humanos... É bonito, talvez seja útil como factor de motivação, mas se as levarmos demasiado a sério transformam-se em ideologias politicas que se alimentam a si mesmas, não dando resposta a uma realidade que é bem mais complexa de que uma utopia.
Estas frases-slogan “design é um acto de guerra”, “DESIGNERS SUCK” de Nussbaum, “o design está morto”, “o design é a felicidade”, entre muitas outras, pretendem apenas chocar os mais impressionáveis, porque no fundo não espelham nada mais do que uma frase catita. Quando tentamos perceber que sistema está por detrás, que respostas os autores tentam assegurar para afirmar o que afirmam, ficamos com a leve sensação de termos sido ludibriados. É muito fácil surgir com aforismos (é bastante mais mediático assim), do que tentar explicar o porquê desse aforismo, e que resposta, racionalmente coerente, se dá para modificar, ou corroborar, determinada visão.
Uma nota: A palavra revolução é engraçada. Ela queria exclusivamente dizer, no tempo de Galileu, o movimento de translação de um astro, em relação a outro. Quando se falava em revolução dos astros falava-se na sua capacidade de transcrever uma trajectória em torno do Sol de modo consistente. Ora, uma revolução implica, então, um revolver para voltar ao mesmo lugar, um revolver regular, neste sentido, a revolução seria andarmos às voltas para voltarmos ao mesmo lugar. Veja-se as revoluções que aconteceram, quase todas tiveram mais aspectos perniciosos do que condições benéficas.


R: Qual é a sua “utopia pessoal”?

LI: A minha utopia era a de não haver utopias – nem distopias, claro.

R: Parece-lhe que a blogosfera tem contribuído para o desenvolvimento de um debate sobre em torno do design?

LI: Há cerca de dois anos pensava que sim, que a blogosfera iria abrir um amplo debate sobre design em Portugal. Assisti, nessa altura, a um crescimento exponencial de blogs, que queriam discutir o design, embora de uma forma algo inocente – incluo-me nessa inocência. Mas depois, um a um, os blogs foram desaparecendo, espelhando dois motivos: primeiro, a crise económica provocou que os designers atendessem a coisas mais “práticas” (tremo ao escrever isto), e segundo, porque escrever e reflectir é algo exigente, e que ocupa, se quisermos dizer algo de interessante e bem pensado, muito tempo.
Todavia, continuo a acreditar que existe um grande potencial com o medium dos blogs, tal como as mailing-lists, entre outros, para poder desenvolver diálogos e debates, quer a nível pedagógico (estou-me a lembrar da experiência de Andrea Marks e também do blog Design? (http://fbaul-designcom1.blogspot.com/) da FBAUL, espicaçando o espírito crítico), como também dirigido aos designers, de modo a que estes se confrontem, não com textos de cariz demasiado científico, mas com estilos mais “próprios”, de modo a incluir o maior número de pessoas, não só designers, no debate.


R: Quais são os seus blogues de referência?

LI: Não tenho nenhum blog de grande referência, além de que sigo apenas, mais atentamente, uma mão cheia de blogs. No entanto, aqueles que de facto sigo, creio que contribuem, da maneira que expliquei mais acima, para um debate sério do design, e não se esboçam por um conjunto cronológico de fanfarronices. De entre os nacionais, destaco o The Ressabiator (http://ressabiator.wordpress.com/) de Mário Moura – já tem alguns anos e pratica um estilo claro e conciso, indo directamente ao assunto que pretende criticar, sem remoer muito – por vezes não concordo muito com ele, mas isso é que torna a explanação de ideias estimulante –, WHAT iS dESiGN? (http://whatisdesign.blogspot.com/), de Rui Carvalho, com citações que podem ser o ponto de partida para algo mais, Zarp.Blog (http://zarp.blogspot.com/) mesmo com vários contratempos procuram manter um olhar sobre o design, e o seu, Reactor, que, com imenso lamento meu, não conhecia antes, mas ao qual serei um leitor assíduo; nos internacionais, destaque para o meu preferido Don Norman (http://www.jnd.org/), um pensador bastante interessante, e, vindo de uma área que estou perfeitamente identificado, em Design de Informação, David Sless's Soap box de David Sless (http://www.communication.org.au/dsblog/), com a sua visão externalista.


R: Que pergunta acrescentaria a esta entrevista? E que resposta ela lhe mereceria?

LI: Talvez perguntasse, e para responder à sua pergunta, “Porque é que nós, designers e não só, não fazemos mais perguntas?” E creio que a resposta reside, em primeiro lugar, na dinâmica da própria sociedade contemporânea em si, em não instituir, e não “querer”, espírito crítico (somos formados para o fazer, e não para pensar muito sobre isso – basta observar que agora existe formações para tudo e para nada). Segundo, porque estamos mais habituados a ouvir “celebridades” e a importar os seus pensamentos, nunca pensando por nós próprios. E, terceiro, porque quando perguntamos, temos medo das respostas que poderemos encontrar. O perguntar pode abalar mesmo as nossas convicções e crenças mais profundas, e destruir todo um sistema da realidade que achávamos seguro, tranquilo e regular.

Termino, com o dictum de Sócrates que adoro (mais do que aquele de que “sei que nada sei”), e que já utilizei também noutro lugar, “a vida não examinada não vale a pena ser vivida”, deslocando-o, mais uma vez, mutatis mutandi, para “o design não examinado não vale a pena ser praticado”.


Muito obrigado.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com