Wednesday, October 04, 2006

Entrevista com Eduardo Kac

Originalmente publicado em www.obraprima.net




Fora do Brasil desde 1989, o artista plástico carioca Eduardo Kac, um dos principais nomes brasileiros em arte digital, está voltando ao país para uma rápida visita. No mês de agosto ele vai realizar em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro uma palestra sobre o seu trabalho. ìEu me mudei para Chicago nos primeiros dias de 1989 porque infelizmente não mais conseguia trabalhar com as dificuldades de recursos disponíveisî, conta Kac, professor do The School of the Art Institute of Chicago. Ele começou a trabalhar com arte e tecnologia em 1983, com o projeto holopoesia, que explora as possibilidades da palavra/imagem no espaço-tempo holográfico.
Antes de embarcar para o Brasil, Eduardo Kac conversou com o Obraprima.net. Confira!

Obraprima.net - No início dos anos 80, década do retorno à pintura, você criou uma série de performances e uma nova linguagem poética, a holopoesia. Ao mesmo tempo, você integrou a exposição Como vai você, Geração 80?. Como foi conciliar duas coisas a princípio tão diferentes?
Eduardo Kac - A idéia de que a Geração 80 foi um fenômeno homogêneo não reflete a realidade da geração que emergiu nesse período. Paralelo àqueles que fizeram pintura, houve um grupo de artistas (na maioria em São Paulo, embora eu fosse baseado no Rio de Janeiro) que exploraram novas tecnologias e buscaram a criação de novas linguagens. Meu trabalho anterior com performance compartilhava do espírito livre e alegre que se costuma identificar com a Geração 80.



Projeto Genesis, 1999

OP - Que trabalho você apresentou na exposição Como vai você, Geração 80?
EK - Um "outdoor" voltado para dentro do parque, com as costas para a rua. Na época eu também estava fazendo projetos públicos. O meu "outdoor" exibido na Geração 80 seguia a linha de meus outros "outdoors", na qual eu usava imagens do período cro-magnon. Para este "outdoor", eu carimbei imagens cro-magnon à mão, cobrindo os 27 metros quadrados da superfície do outdoor.

OP - O que é holopoesia, criada por você em 1983? Como tem andado esse "projeto"?
EK - O projeto da holopoesia foi iniciado em 1983 e concluído em 1993. O holopoema é o poema concebido, realizado e apresentado holograficamente. Isto implica dizer, a princípio, que ele se organiza no espaço tridimensional e, à medida que o leitor o observa, se transforma e dá origem a novos significados. Assim, ao ler o poema
no espaço, ou seja, ao caminhar ao redor do holograma, o observador modifica constantemente a estrutura do texto.

OP - O que você está preparando para o Centro de Arte Hélio Oiticica? Vai ser um debate ou vai haver uma exposição também?
EK - Será uma palestra sobre meu trabalho dos últimos anos, intitulada "Telepresença, Biotelemática, Arte Transgênica". Vão ser ao todo três palestras no Brasil: dia 02 de agosto vou estar no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; dia 14 de agosto , no Itaú Cultural em São Paulo e dia 22 de agosto, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. Não vou fazer nenhuma exposição no Brasil este ano. Eu estou conversando com a Galeria Nara Roesler, que me representa no Brasil, e tentando planejar uma exposição para o futuro próximo.



The Eighth Day, 2000/2001

OP - Você poderia falar um pouco mais sobre a palestra? Você costuma realizar palestras sobre seus trabalhos?
EK - A palestra vai cobrir desde a arte da telepresença, que comecei a desenvolver no Rio de Janeiro em 1986, até meu trabalho recente com a arte transgênica. A arte da telepresença resulta do acoplamento de sistemas de telecomunicação (rede telefônica, Internet) com telerobos (robôs controlados aa distancia). A idéia básica é que você tenha a experiência de um ambiente social remoto através do corpo do telerobo. A Arte Transgênica se baseia na criação de seres vivos novos através do uso da engenharia genética, o que envolve não apenas questões estéticas, mas também éticas e sociais. Faço palestras ao redor do mundo com regularidade. Ao fim de 2002, terei feito 23 palestras, viajando por nove paises em cinco continentes.

OP - Há quanto tempo você dá aulas na The School of the Art Institute of Chicago e em que medida dar aulas é uma influência, um estímulo para o seu trabalho?
EK - Dou vários cursos desde 1990. Também sou diretor do Programa de Holografia e do Departamento de Arte e Tecnologia. Entre os cursos que dou, se encontram: "Arte e Biotecnologia", "A Luz Como Meio de Criação na Arte", "Historia da Arte Tecnológica", "Holografia", e "A Internet Como Meio de Criação na Arte". Dar aulas serve como estimulo, pois crio um ambiente no qual o dialogo é constante.






Eduardo Kac e Alba, o coelho fluorescente.

OP - Como você vê a arte brasileira hoje?
EK - Tenho acompanhado com felicidade o sucesso internacional de vários colegas da Geração 80, bem como de artistas de gerações anteriores, como Cildo Meireles, que fazem sucesso internacional merecido. Vale mencionar que os artistas brasileiros que trabalham com novas tecnologias continuam ausentes das grandes mostras retrospectivas da arte brasileira (por exemplo, a Brasil 500 Anos) e também dos livros de historia da arte brasileira. Isto leva o publico a pensar que não existe uma arte tecnológica no Brasil, o que não é correto. É preciso corrigir esta lacuna para que se possa ter uma visão completa da arte brasileira hoje. Propus um projeto de documentar a arte brasileira à Funarte em 1985 e o projeto foi rejeitado. Em 1995, propus o mesmo projeto à revista de arte Leonardo, editada pelo MIT Press, e o projeto foi aceito. Desde 1995 tenho feito um levantamento exaustivo da arte tecnológica brasileira e venho publicando o resultado na revista Leonardo e na Web da Leonardo. Recentemente, este projeto se viu ampliado pelo trabalho do Itaú Cultural, de São Paulo, que tem feito exposições, palestras, concursos, etc nesta área, o que é excelente. Uma visão da arte brasileira hoje que não leve em conta a arte tecnológica é uma visão incompleta.

OP - Em que você vem trabalhando agora?
EK - Estou desenvolvendo duas novas obras de arte transgênica, bem como uma obra publica para a Universidade de Minessota.
Fernanda Lopes

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